Penso nele. Em ti, sim. E traço linhas do destino daquele tempo em que eu caminhava por cima das tuas pegadas invisíveis, agora alguém as faz nas minhas. O tempo aperta-se como um parafuso que se enrosca sem ter fim, moído pelo coração dos que se querem e dos que não se querem. Dois mundos. Dois tempos, dois destinos. O meu, sempre do lado errado.
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Então é isso, querer e não querer, querer e não poder, querer e não chegar. Persegue-me como um cão castigado que procura a clemência do afago. Mas sei, que mal eu pousar a mão sobre o dorso, o pêlo se há-de eriçar preparando-se na oportunidade para me morder. Prefiro que a dentada da recusa me ferre o peito e mantenho-o afastado. Não voltaremos ao jogo do perdão.
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Porque não sabem, dizem-me que fujo da felicidade. Não sabem de nada. Corro de encontro à solidão, velha amiga que prefiro ao engano de um amor que me toma os pulsos até aos ossos, para depois ajoelhar na penitência. Não sabem de nada, julgam-me doida por preferir os cantos ao abraço do meu carrasco. Não sabem de nada, nem quem sou nem quem fomos.
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©opyright Escritos Nefastos, Maria Manuel Gonzaga, 2009-2016