É um pesado fardo gostar tanto de alguém. Como eu de ti. Mas para além desse gosto, escondê-lo como se fosse um crime. Acho que como todos os pecadores espero um dia que se descubra esse crime. Sem poder fazer nada para o impedir havería de me sentir liberta deste peso, leve por já nada voltar a ser como dantes, ainda assim escrava do que continuarei a sentir.
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Os filmes de amor em que tudo acaba mal têm o condão de me aproximar ainda mais de ti, do que sinto por ti e pareces ignorar ou simplesmente fazer de conta que não sinto. Acho que os procuro deliberadamente. É uma forma de justificar as minhas lágrimas, assim não tenho que procurar outras explicações, basta dizer que sou romântica . E choro, choro até ficar com os olhos inchados e me sentir destroçada. É quase um alívio.
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Arranjo-me para ti, tento imaginar o que gostarás de ver em mim e procuro nos pormenores que fixes alguma coisa que te faça lembrar de mim. Não sei se te vou encontrar ou se tal acontecer se falaremos, se darás pela minha presença. Mas não quero correr o risco de me achares banal. Demoro muito tempo a adivinhar o que gostarás de ver em mim, tanto, que fico indecisa. E acabo ao espelho a dizer o quanto sou estúpida por te dar tanta atenção.
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Onde é que andas que não te vejo, não te encontro, não sei nada de ti? Se calhar isto está a acontecer porque fiquei triste contigo, por não me teres dado importância naquele dia. Arrependo-me, juro que não volto a ter pensamentos daqueles. Já podes aparecer, só te quero ver, nem que seja ao longe e a ignorares-me. Contento-me com isso. E a partir daí pode ser que consiga alterar o rumo do destino e tu notes a minha presença.
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Vi-te ao longe, acenei-te, acenaste-me. E depois viraste costas e aparentemente muito feliz continuaste a conversar com quem te estava próximo. Não sei quem era, mas desde já odeio-a. Deverías ter deixado essa companhia e teres-te aproximado de mim, mostrar felicidade por estares perto de mim. E quanto muito poderías ter acenado a quem deixaste. Penso se não te tivesse feito sinal se de vontade própria me terías retribuído. Logo hoje que me sinto tão corajosa. Mas agora já não vale a pena. Nem tu mereces.
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Quando me sento a observar o mar, especialmente no Inverno quando está tempestuoso e gelado e os salpicos me arrepiam, penso sempre em ti. O quanto gostava que estivesses do meu lado e adivinhasses o que te digo cá por dentro. Como não estás acompanho o meu sentir com saudades de ti, faço-me viúva e uma mórbida satisfação completa-me.
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Tenho a íntima fantasia de te ver chegar num corcel, branco, tem de ser branco, é todo branco no meu delirio. Eu sou uma princesa presa numa torre à espera que alguém chegue, corajoso, para me salvar do fogo do dragão. Bem sei que isto é uma história infantil das que se contam para adormecer. É por isso que a conto a mim mesma muitas noites em que o sossego não chega.
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Sempre que te encontro o meu coração dispara e fico com medo que me salte pela boca fora. Ou pelo menos as palavras que escondo cá dentro e que tenho vergonha que as saibas. O medo é tanto que só me apetece fugir e no entanto, padeço quando não te vejo. Se tu soubesses disto nunca mais olhavas para mim e acho que eu morrería de embaraço. Mas cá no fundo, silenciosamente, cobardemente gostava que o suspeitasses. Ou que o meu coração estúpido e desgovernado to contasse.
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©opyright Escritos Nefastos, Maria Manuel Gonzaga, 2009-2016