Nem sempre é perto que se está longe. De regresso a casa encontrei um amigo. Há tanto tempo que não nos falávamos. Conversa de infância que me trouxe vontade de sorrir e rir. E ele sorriu e riu. E dum tempo longínquo aproximámos distâncias como se a porta de casa fosse a mesma. Esqueci-me do meu coração perdido e nasceu-me um outro, vivo, jovem, a pular de vermelho e barulhento.
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Por cada caminho feito, distancio-me mais do caminho de casa. Novas ruas, novos rostos, outra rapariga em mim que descubro. Talvez me perca. Fantasio perder-me para me acharem. Ou apenas para sentir um bocadinho de medo na tentativa de regresso ao caminho conhecido.
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Gosto de sentir este frio a gelar-me o rosto. Faz-me sentir viva. É como um estalo que acorda e desperta todos os sentidos, os olhos ficam capazes de ver tudo melhor. Passeio por caminhos onde sei que já estive mas tudo me parece novidade. E acho belo. E acho-me a sorrir deste encontro novo com o passado. Não tenho medo.
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Habituei-me a estar comigo e gosto de estar só comigo. Sei com o que posso contar. Sem sobressaltos, sem dor, sem o disparo da felicidade que descompassa o ritmo dos dias. Tudo está certo.
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©opyright Escritos Nefastos, Maria Manuel Gonzaga, 2009-2016