Se ninguém acredita neste amor e até ele que o partilha me pergunta se a dor que senti era a saudade de não o ter, que faço da verdade do que sinto? Escondo no peito as batidas vorazes que me consomem em cada beijo, em cada toque na mão apertada, por cada vez que nos fazemos homem e mulher no conceito mais puro e cruel da carne, a alma a voar alto onde o coração não tem sentido por tudo o que sente ser demasiado para explicar? Como o amor é nefasto.
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Falei deste amor com outros. Acharam-me louca, disseram que só nos livros existia coisa assim, vivido é a impossibilidade do ser entre dois. Tristemente, não acreditaram. Tristemente, acharam que a antiga loucura de que padecia me havia para sempre tomado e retido entre páginas de um romance de um amor imaginado.
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Vivemos num amor tão profundo que quase me sinto culpada de um crime. É que afinal amar desta forma tão plena e ver os outros tão pobres sem o mesmo que nós, faz-me sentir culpada de não saberem o que não têm. Digo-lhe o que sinto e ele aponta aos outros a própria culpa deles. Mas eu sei que assim não é porque já estive nos seus lugares tristes e nem por isso a culpa era só minha.
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Perguntou-me ele se eu sofrera pela sua distracção, pela sua ausência de sentimentos por mim enquanto não estivemos juntos. Olhei-o no fundo dos olhos como se o estranhasse. Nada lhe disse, deixei-o pensar na sua própria pergunta. A resposta há-de estar dentro dele. Ou em mim, no tempo que estiver comigo, diluídos um no outro sem separação que se consiga encontrar para dizer este é um e aquele é um outro.
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©opyright Escritos Nefastos, Maria Manuel Gonzaga, 2009-2016