Agora atravesso o jardim em passos largos. Não me sento no banco, sustenho a respiração o quanto posso para que não fique presa nas alucinações do perfume das flores. Mas fora dali, quanto mais força faço para te trazer à lembrança, mais distante me apareces, mais longe ficas. Arrependo a minha promessa e tenho vontade de voltar ao banco do jardim, de dizer sim de novo, que te quero a ocupar-me outra vez. Antes o sofrer por um amor ausente que nada ter, nem memória, nem cheiro de coisa vivida, só vislumbres de filmes de amor representados em salas escuras onde se chora por outros por não saber o que é chorar por si.
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O tempo quente traz o sabor das flores. Dei comigo no nosso banco de jardim. Talvez inebriada pelo perfume do ar, as recordações vieram em ondas como se a tua presença ao meu lado fosse tão real quanto o sol a bater no meu rosto. Mas dizias-me coisas nessas lembranças, que não estou muito certa que tenham acontecido. Eram demasiado belas, demasiado apaixonadas, demasiado verdadeiras para que fossem a verdade do que guardei. Dei comigo no banco do jardim, bêbeda de saudades e desejei que o Inverno chegasse para me curar.
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©opyright Escritos Nefastos, Maria Manuel Gonzaga, 2009-2016