Tornei-me uma mulher, aprendi-me mulher, deitei-me menina e ergui-me mulher. Não por ele, mas por mim. Para me amar primeiro a mim para depois o amar a ele e a nós. Não me consciencializei do ocorrido, aconteceu naturalmente sem empurrões nem esforço, deixei de me violentar e lembrar de esquecer. Ou esquecer o que tinha para me lembrar. Só precisava de doer para crescer. Como a todos.
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Falamos menos, dizemos mais. Olhamo-nos e sabemos. Por vezes nem precisamos de nos tocar mas é fundamental que estejamos perto um do outro, que nos olhemos, para saber o que dizer, o que ouvir. Ele chega e põe a flor no meu cabelo. E depois parece nada. E tudo acontece. Um beijo. Por vezes ficamos muito tempo no silêncio, sem darmos as mãos, quem nos observar há-de dizer que somos dois estranhos, casualmente sentados lado a lado. Sem sitio especial. É verdade, só nós o conseguimos ver.
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A exultação do amor através da linguagem do corpo, tudo fala, gritos silenciosos em que a pele se explica melhor que as palavras ditas, as palavras na mão do escritor habituado. O meu corpo ensinado, o corpo virgem como se sempre tivesse sido educado ou preparado para esse instante. Tudo me fala. E no final, amo-te.
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Cada beijo é uma descoberta, uma jóia, novos sentidos explodem em mim como se outra em mim se construísse dentro e rompesse a de fora. Sinto uma quase dor que não chega ser dor e no entanto dói, desejo esta dor, tão parecida a um prazer. Acho-me quando só no meu quarto, em contemplativas visitas a estes beijos e de olhos fechados revivo-os em momentos únicos como se lhes adivinhasse um fim próximo. Guardo-os na minha memória.
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©opyright Escritos Nefastos, Maria Manuel Gonzaga, 2009-2016