Vieram falar-me de ti. E eu calada. Não quero saber. Quem me fala de ti conta-me que falaste de mim. E eu calada. Quero saber. Mas é tudo tão inesperado que nem percebo o que me contam, as palavras chegam numa lingua que desconheço, será que ouço o que quero ouvir ou dizem-me o que disseste? Peço para repetirem duas, três vezes, mas olham-me como se eu falasse de uma coisa estranha.
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Os caminhos por onde passo são os mesmos de sempre. Os da tua procura. Deveríam estar gastos de tanto aqui passar. Ou os meus pés gastos, comidos até aos joelhos de tanto calcorrear ruas na procura da tua sombra, das tuas costas a irem-se e eu atrás de ti como sempre, como sempre uns metros atrasada para que não desconfies. De que me servem pés e pernas se não te acho? Começo a desesperar, sinto-me triste, triste.
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Rio, sinto-me feliz, alguma coisa me diz que dentro em breve dobras uma qualquer esquina e dou contigo. Chamam-me tonta, sabem lá porque estou assim, dizem-me que adivinho chuva como se fosse presságio de coisa má. Tontos são eles, pois não é o sol que rompe de novo entre o cinzento do céu?
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Chove, chove muito. Li há muito tempo que quando chove assim, são os anjos que choram. Procuro livros de poesia onde consiga entristecer-me pela tua falta, mas tudo me aborrece, nada me entretém, nada me põe nesse estado de melancolia que leio nos poetas apaixonados a falarem de anjos que choram. Só consigo ver-te e essa imagem enche-me o peito, deixa-me feliz.
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©opyright Escritos Nefastos, Maria Manuel Gonzaga, 2009-2016